quinta-feira, 24 de dezembro de 2020


 Do Céu ao Inferno: Polaridades

        

      De volta à escrita provocativa, começo hoje por uma frase de Jung " qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos". Como seres em evolução, ensaístas e aprendizes da vida, por vezes teremos subidas e descidas, como tudo que é ciclo e vida, como a água que primeiro desce em forma de nascentes, rios, mares, depois volta aos "céus" através do estado condensado gasoso (nuvens) para em seguida ser líquida através da chuva e, nesse processo obviamente há transformações de um estado para outro, não e diferente conosco, enquanto humanos. Às vezes estamos mais como água barrenta, turva, onda revoltosa, outrora água cristalina e serena e, somos água sem dúvida, em essência.

    Ainda vamos encontrar os que definem parte nossa como luz e sombra. O fato é que enxergar nossas sombras, ou melhor, nosso lado mais sombrio o "darkness person" não é tarefa fácil, assim como sair da "condição de sombra e flutuar para a luz" é mais árduo ainda, mas é o exercício constante ao longo da vida. Tudo isso para dizer que temos nossos períodos de instabilidade, oscilações, dúvidas e incertezas, dias que estamos mal humorados no sentido do afeto, do humor afetado e devemos nos permitir também passar por esses estados, enxergar nossas fraquezas, afinal somos compostos de forças e fraquezas, ou, de fragilidades e potências. Ora estamos em um estado ou outro porque antes de qualquer coisa somos humanos, humanos errantes, ora acertamos também. Não há nada errado em estar assim, o que parece ser o ponto nevrálgico é a intensidade e permanência nesses estados, se a polaridade for muito exacerbada corremos o risco de caminhar para a patologia, estados mentais alterados num português coloquial.

    Diante dessas realidades a sociedade, a cultura repressora e a indústria farmacêutica desenvolveram "ótimas soluções" em forma de pílulas, que de tão encapsuladas acabaram por embotar nossos  afetos, o resultado, entre tantos outros, temos pílulas ideais para conter nossas lágrimas e choros, nossas mágoas e conter qualquer expressividade de nossas emoções, ou seja, somos produtos de afetos embotados, porque chorar não é permitido, culturalmente produziu-se a idéia equivocada que chorar é sinônimo de fraqueza. Assim vamos caminhando amarrados numa sociedade adoecida psiquicamente, construindo dependências diversas, de diferentes ordens, que não nos fazem bem seja por comprimidos, TVs, tabletes, smartfones ou até mesmo relacionamentos abusivos, expressados das  mais diversas formas desde a comida, o álcool, os parceiros e amizades tóxicas, na tentativa de preencher algo que não pode ser preenchido, os vazios existenciais, que insistem em não serem pensados através de um processo consciente porque é doloroso, por vezes ficam mais no inconsciente mesmo produzindo efeitos mais nefastos ainda.

    Por fim, trouxe propositalmente os termos "céu e inferno", notadamente conceitos católicos criados pelo homem e, em outros tempos e nestes atuais por vezes como forma de dominação, através do temor da figura intitulado como "Diabo" e outras denominações. Como tudo que podemos imaginar, podemos criar, acreditamos que podemos também criar nosso próprio céu ou inferno, depende da polaridade que por ora podemos optar por ficar.

                             


                                                       Débora - a Ensaísta de Escritora

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