sábado, 10 de dezembro de 2011

Um olhar sobre Xirê e Carreata de Mãe Oxum



Um olhar sobre o Xirê e Carreata de Mãe Oxum

 A produção deste texto deve-se ao fato de recentemente ter observado e vivenciado o evento da carreata e as festividades em homenagem à santa realizadas no município realizadas em 03 de dezembro de 2011. Por termos conhecimento de que há uma luta de alguns anos por parte de alguns religiosos, inclusive da ONG que presto trabalho voluntário em Psicologia desde 2007, mais especificamente falando da líder religiosa Mãe Carmen de Oxalá, pelo reconhecimento e reconstrução do território da Gruta de Oxum na Praia da Alegria em Guaíba-RS. Podemos iniciar esse exercício de escrita delineando a questão do imaginário ativo, tanto na ordem individual, subjetiva, quanto social com amplitude coletiva, relacionando-os com a questão patrimonial imaterial representada pela imagem Santa da Orixá Oxum na Praia da Alegria em Guaíba-RS, que no sincretismo religioso católico pode ser representada por Nossa Senhora Aparecida e Conceição e a expressão de sua representação através cultos africanos.
A partir de minhas observações e vivências no terreiro tradicional da Assobecaty e a exemplo do que aponta Sodré (2009), também no município de Guaíba/RS de um modo geral e, mais especificamente pelo poder público municipal pode-se afirmar que há uma dificuldade em separar real de imaginário pela longa tradição patrimonialista voltada ao capital, nesse sentido havendo um esforço de determinados grupos minoritários em manter sua hegemonia, mesmo quando se trata de um patrimônio imaterial, aqui representado pela imagem Santa Africana da Orixá Oxum da Praia da Alegria. Acreditamos que o fato esteja relacionado ao imaginário social criado em torno dos cultos religiosos africanos, que sofrem descaracterização nos coletivos sociais. Nos situando em relação ao poder público municipal que trataremos aqui e o grupo de religiosos, operantes em prol da imagem sagrada, em sua maioria negros de diferentes nações, ainda em busca de uma identidade reconhecida.Brevemente trazemos dados que demonstram a discrepância quando trata-se do tema de reconhecimento e legitimidade do culto africano, nos referimos a questão religiosa afro-brasileira, mais precisamente a identificação religiosa, que ainda sobre distorções e descaracterizações no Estado do Rio Grande do Sul, panorama semelhante no município de Guaíba, embora não tenhamos pesquisas oficiais disponíveis no momento. Segundo Oro (2008), embora o Censo do IBGE de 2000, revele o índice mais elevado do país que declararam pertencentes às religiões afro-brasileiras, pois enquanto o panorama nacional era de 0,3%, os gaúchos representam, os gaúchos representaram 1,62%, ficando a frente do Rio de Janeiro 1,31%.Na mesma época do Recenseamento, enquanto o país assistia uma diminuição de indivíduos que afirmavam sua identidade religiosa associada às religiões afro-brasileiras, no Rio Grande do Sul um aumento de 33%.
 Uma definição que melhor traduz a questão religiosa de que estamos tratando no município de Guaíba é definida por Oro(2009), na qual afirma que o batuque representa a expressão mais africana do complexo afro-religioso gaúcho, pois a linguagem litúrgica é yorubana, os símbolos utilizados são os de tradição africana, as entidades veneradas são os orixás e há uma identificação às “nações” africanas.
 Por se tratar a imagem santa da Orixá Oxum de um patrimônio imaterial e, em nossa discussão pretendermos abordar e problematizar a questão patrimonialista como tradição no município de Guaíba no sentido de acúmulo de capital por minorias, pois temos conhecimento de que a origem histórica da constituição da população do município fora a de grandes estancieiros que mantinham verdadeiras falanges de escravos negros, estes acabavam à margem do rio para poderem executar seus cultos religiosos livremente.
Ousamos um pouco na afirmação para além do conceito dos autores e complementamos, quando afirmam que este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Diríamos muito mais que os cultos africanos trazem uma riqueza peculiar nos seus rituais, a tradição é passada principalmente através da oralidade, seja pelo toque dos tambores, pelos cânticos e rezas, que não se dissociam do ritmo corporal a cada expressão correspondente. A tradição cultural também está baseada na ancestralidade e na circularidade, pois todos os movimentos e manifestações se organizam em círculos, em rodas, onde início dos rituais dá-se preferência aos mais velhos, por acreditarem no seu acúmulo cultural, na sua sabedoria e sua continuidade através de seus ensinamentos.


 Finalmente, posso dizer que pessoalmente simpatizei com a causa por uma questão de cidadania, por que ainda não vi em termos de governabilidade municipal o exercício do estado pleno de direito, muito pelo contrário prega-se a idéia de uma democracia, contudo, na prática velada e sem respeito à diversidade cultural e religiosa. Resumidamente pode-se dizer que os direitos e garantias constitucionais ainda não estão plenamente garantidos neste município, todas as conquistas que foram sendo agregadas foram frutos de muita luta. Porém, por outro lado tivemos novos simpatizantes ao movimento, que certamente irão somar com suas contribuições ao evento e a luta pela causa da Gruta de Oxum, falamos das presenças de Camilo de Lelis-Teatrólogo, Pedro Vasconcellos-Secretário de Cultura do Município de São Leopoldo, Professora Zélia Araújo Lima- Narradora da Representação dos Orixás, Itair da Rádio RDC, entre tantas outras pessoas que a cada ano dão a sua contribuição para que o Xirê e a Carreata tenham o brilho e o glamour a que faz jus a Orixá Oxum.

 Débora Lúcia de Souza e Silva
  Psicóloga-CRP/RS 07;15877


Um comentário:

  1. A carreata e Xirê de Mãe Oxum, realizada pela quarta vez em Guaíba/RS, trata-se de um movimento de luta pelo reconhecimento do patrimonial imaterial, a reconstrução da Gruta na Praia da Alegria- Guaíba/RS.

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